Promotor
Óbidos Criativa E.M.
Breve Introdução
SINFONIAS ÍMPAR
Cada sinfonia de Beethoven é «um caso», ou melhor, uma obra-prima. Ainda assim, e apesar de todas as singularidades, todas espelham um mesmo desígnio artístico, a ambição desmedida que acompanhou o compositor ao longo da vida. Consigo, a ideia de Sinfonia transformou-se. Expandiram-se os alcances técnicos e expressivos. Beethoven desafiou as regras e acrescentou-lhes uma «voz» própria. Entre muitas outras, há duas características que se distinguem na sua produção sinfónica. Na primeira, a obra musical assume-se como veículo subliminar de ideais filosóficos ou políticos, transcendendo a dimensão puramente estética. A segunda resulta da expressão intensa e despojada dos estados de
ânimo do indivíduo. É música escrita «na primeira pessoa», contornando os arquétipos da convivência social dos primeiros anos do século XIX. A Quinta e a Sétima sinfonias são disso bons exemplos. A Sétima foi estreada em 1813 num concerto de beneficência em favor dos combatentes austríacos que enfrentaram as tropas de Napoleão Bonaparte na Batalha de Hanau. Não se estranhe, por isso, que três dos seus quatro andamentos apresentem um caráter efusivo, entre tipologias de danças populares e evidentes arquétipos militares. É uma obra cheia de energia, mas onde se destaca a afetação expressiva do segundo andamento, o mais célebre andamento lento de todas as sinfonias de Beethoven. Aí, repete-se com insistência uma mesma célula rítmica sobre a qual flutuam ideias melódicas persuasivas. Instala-se um clima misterioso, ora idílico ora evocativo de uma experiência redentora. Este momento musical (sublime) separa a grandiosa introdução do primeiro andamento e os ritmos jocosos do Scherzo. A terminar, assiste-se a um rojo de inventividade, exaltante, do primeiro ao último minuto. Depois... quem não conhece o motivo de quatro notas que dá início à Quinta Sinfonia? É, pois, chegada a hora de ver «o que vem de seguida». Ao longo de quatro andamentos assiste-se a uma obsessiva insistência em torno desse tema germinal, derivando noutros temas melódicos que nunca se afastam definitivamente. Explica-se assim a força desta obra. Até o lirismo do segundo andamento remete para «a tal» ideia rítmica. Sucedem-se variações, que também recordam esse registo majestoso. O Scherzo retoma o princípio de tudo por entre as mais variadas combinações de instrumentos. Com uma fuga pelo meio, acumula toda a intensidade que aponta ao bom efeito do último andamento. Após momentos de impasse, chega-se sem interrupção à proclamação gloriosa, ao momento triunfante. Repetem-se cadências e acordes ostensivos que não fariam grande sentido se não nos recordássemos do primeiro tema do segundo andamento, mas sobretudo do tal motivo inicial, esse mesmo que se escreve com quatro notas só.
Interpretação
ORQUESTRA METROPOLITANA DE LISBOA
PEDRO AMARAL MAESTRO
Nascido em Lisboa (1972), Pedro Amaral, compositor e maestro, é um dos músicos europeus mais ativos da nova geração. Inicia os estudos em composição como aluno privado de Lopes-Graça, a partir de 1986, ao mesmo tempo que prossegue a sua formação musical geral, no Instituto Gregoriano (1989/91). Ingressa depois na Escola Superior de Música de Lisboa onde conclui o curso de composição na classe do professor Christopher Bochmann, em 1994. Instala-se em Paris, onde estuda com Emmanuel Nunes no Conservatório Superior, graduando-se com o Primeiro Prémio em Composição por unanimidade do júri. Estuda ainda direção de orquestra com Peter Eötvös (Eötvös Institute, 2000) e Emilio Pomàrico (Scuola Civica de Milão, 2001). Paralelamente à sua formação musical prática, prossegue os estudos universitários na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris obtendo, em 1998, Mestrado em Musicologia Contemporânea com uma tese sobre Gruppen de K. Stockhausen – com quem trabalha como assistente em diferentes projetos – e, em 2003, um doutoramento com uma tese sobre Momente e a problemática da forma na música serial. Em maio de 2010, estreou em Londres a sua ópera O sonho, a partir de um drama inacabado de Fernando Pessoa. Unanimemente aplaudida pela crítica, a obra foi interpretada por um prestigioso elenco de cantores portugueses acompanhados pela London Sinfonietta sob a direção do compositor, tendo sido apresentada em Londres e Lisboa. Como compositor e/ou maestro, Pedro Amaral trabalha regularmente com diferentes ensembles e orquestras, nacionais e estrangeiros. Foi maestro titular da Orquestra do Conservatório Nacional (2008/09) e do Sond’Ar-Te Electric Ensemble (2007/10). Desde o ano letivo de 2007/2008, é Professor Auxiliar da Universidade de Évora (Composição, Orquestração e disciplinas afi ns). Desde julho de 2013, Pedro Amaral é diretor artístico e pedagógico da AMEC /
Metropolitana.
Notas Suplementares
Ludwig van Beethoven (1770-1827)
Sinfonia N.º 7 em Lá Maior, Op. 92 (1813)
(duração aproximada: 42’)
I. Poco sostenuto - Vivace
II. Allegretto
III. Presto
IV. Allegro con brio
Intervalo
Sinfonia N.º 5 em Dó Menor, Op. 67 (1807)
(duração aproximada: 32’)
I. Allegro con brio
II. Andante con moto
III. Allegro
IV. Allegro